quinta-feira, 7 de maio de 2020

Eleições Autárquicas: Uma reflexão do absenteísmo na Cidade de Lichinga de 2013 e 2018



CAPITULO I: ASPECTOS INTRODUTORES

O presente projecto objectiva analisar os factores que contribuem para o absenteísmo nas eleições autárquicas na Cidade de Lichinga.
A partir da assinatura dos acordos de paz em Outubro de 1992, Moçambique criou o compromisso de estabelecer uma “nova democracia” com base na descentralização de poder, muito mais ligada ao poder local (assembleia), que deveria ser um órgão eleito por sufrágio universal na circunscrição territorial a ser governada seria dotada de poderes deliberativos no seu território. Estes órgãos autárquicos, já não dependeriam dos órgãos locais do Estado, mas estariam sujeitos a tutela do Estado. Fenómeno que foi resultado do movimento de descentralização estimulado em 1990, que ocasionou a transferência de competências do Estado aos órfãos locais no distrito como também como também a criação de entidades jurídicas e populações designadas autarquias (CISTAC, 2012).
Para a realização do presente projecto recorreu-se a consulta bibliográfica, que consistiu na leitura de alguns livros, revistas e artigos científicos que são disponibilizados na internet, ajudando assim a melhor percepção do tema em estudo.
Em relação a organização deste projecto, importa referir que, encontra-se estruturado com os seguintes elementos: Introdução, Tema da Pesquisa, Delimitação do Tema, Justificativa, Enquadramento do Tema, Problema, Objectivos, Hipóteses, Tipo de pesquisa, Metodologia, Técnica de colecta de dados, Instrumentos de colecta de dados, Analise e Interpretação, Universo e Amostra, Cronograma das actividades, orçamento, quadro teórico e por fim a Bibliografia.










1.1 Delimitação do tema

Eleições Autárquicas: Uma reflexão do absenteísmo na Cidade de Lichinga de 2013 e 2018

1.2 Objectivo

1.2.1 Objectivo geral

*      Analisar os factores que contribuem para o absenteísmo nas eleições autárquicas na cidade de Lichinga.

1.2.2 Objectivos específicos

*      Identificar as causas do absenteísmo nas eleições autárquicas de 2013 e 2018 na Cidade de Lichinga;
*      Conhecer a importância das eleições autárquicas no desenvolvimento da Cidade de Lichinga;
*      Sugerir medidas de mitigação do absenteísmo nas eleições autárquicas na Cidade de Lichinga.

1.3 Hipóteses

Constitui como hipóteses da pesquisa os seguintes:
H1: O protesto político é uma motivação para as abstenções nas eleições autárquica na Cidade de Lichinga, para além de baixo nível de escolaridade, distância das mesas de votos, doenças dos eleitores ou dos parentes ser também uma das causas;
H2: Votar é um acto de cidadania, por isso é importante, visto que, a partir do voto o eleitor decide quem quer que seja o seu dirigente;
H3: tem de de conhecer as condições que cercam a vida desse eleitor, o contexto socioeconômico ao qual está inserido para, assim, poder entender o seu comportamento eleitoral.

1.4 Problematização

Quando o eleitorado pensa estar a castigar o candidato ou o partido que o representa quando opta pelo absenteísmo, age errado. Quem se abstém de votar perde, imediatamente, o direito de poder criticar qualquer dos eleitos por actos que possam vir a praticar no exercício das suas funções e com os quais não esteja de acordo. Quem não vota, perde a legitimidade. Votar é, por isso, assumir a responsabilidade máxima de escolher, livremente, os seus governantes ou representantes.
Mais do que isso, para além de uma obrigação cívica e de um direito adquirido, votar é ter-se a certeza de que se toma parte activa na vida do seu próprio país. Por vezes, ou quase sempre, mais atentas a “caçar” ou a “mendigar” votos, as campanhas eleitorais nem sempre são objectivas a doutrinar o eleitorado relativamente a estas questões, preferindo antes passar ao lado dos ensinamentos que, em consciência, estarão obrigados a deixar pelas aldeias por onde passam e pelos caminhos que percorrem.
Os partidos são sempre os primeiros a não educarem o povo sobre a importância que tem o voto de cada um. Ficam-se só, e apenas, pelo desejo de que votem em si.
O voto é a arma que o povo tem para escolher, ou para castigar, livremente, os seus governantes mas, não votar será como que assumir a vergonha de não ser um filho digno do país onde nasceu e onde realiza a sua vida[1]. Nesta perspectiva surge a seguinte questão:
*      Quais são os factores que contribuem para as abstenções nas eleições autárquicas de 2013 e 2018 na Cidade de Lichinga?

1.5 Justificativa

Num momento que se tem uma concepção errada de que o absenteísmo é visto como uma forma de castigar os governantes, a presente pesquisa pode ser de maior valia para os diversos campos do conhecimento, sendo académico, politico, social e económico.
O local em estudo que é Cidade de Lichinga, surge pelo facto de ser onde o pesquisador reside nos últimos anos, tendo observado de facto os últimos sois pleitos eleitorais no âmbito autárquico, e aos poucos construía a ideia de desenvolver a pesquisa para perceber as razoes que levam a menor afluência as fileiras de votação nos dias marcados para que o autarcas exerçam o seu direito cívico.

 

 

 

 


CAPITULO II: REVISÃO LITERÁRIA

2.1 Conceitos básicos

A eleição “é o processo que consiste na escolha de determinados indivíduos para exercerem o poder soberano, concedido pelo povo através do voto, devendo estes, assim, exercerem o papel de representantes da nação” (TSE, 2005).
Absenteísmo “O absenteísmo (português brasileiro) ou absentismo/absenteísmo (português europeu) é um padrão habitual de ausências no processo de trabalho, dever ou obrigação, seja por falta ou atraso, falta de motivação ou devido a algum motivo interveniente”[2]
Absenteísmo “é uma palavra com origem no latim, onde absens significa "estar fora, afastado ou ausente". O absenteísmo consiste no ato de se abster de alguma actividade ou função”[3].

2.2 Breve histórico das eleições autárquicas em Moçambique

2.2.1 Primeiras eleições autárquicas de 1998

Nesta criação de autarquias locais (1997), verificou-se a primeira eleição autárquica Moçambicana em 1998, nos 33 municípios, em que apenas disputava os partidos políticos FRELIMO e RENAMO, porém nesta época, as eleições acabaram de ser boicotadas pela RENAMO, pois esta alegava a falta de transparência do processo eleitoral. Nisto, verificou-se que todos municípios ficaram na posse ou sob governação da FRELIMO (TVI24, 2008).

2.2.2 Segunda eleição autárquica de 2003

As segundas eleições municipais realizaram-se em 2003, também nos 33 municípios, e contaram com a participação de todos os principais partidos políticos, incluindo da RENAMO, sendo ganhas pelo partido FRELIMO com cerca de 87.87% dos municípios contra 9.09% da RENAMO, em que constatou-se também a divisão do município de Marromeu pelos dois partidos  (NOÉ, S/d).
Neste período, a oposição ganhou algumas presidências de municípios, incluindo a da segunda maior cidade do país, a Beira. Isto foi significativo porque, pela primeira vez na História do país, partes importantes do território eram administradas por políticos que não pertenciam ao partido dominante, a FRELIMO.

2.2.3 Terceira eleições autárquicas de 2008

Cinco anos depois em 2008, foram criadas mais 10 municípios, nas vilas de Marrupa, Mueda, Ribaué, Alto Molocué, Angónia, Gondola, Gorongosa, Massinga, Macia e Namaacha, concorreram para um total de 43 municipios, na qual foram disputados por muitos partidos políticos, além dos principiais partidos nacionais (FRELIMO e RENAMO).
Neste período realizaram-se as terceiras eleições municipais de 2008, num contexto em que uma oposição enfraquecida (RENAMO) e ainda mais dividida, de que é exemplo de destaque a candidatura independente de Deviz Simango na Beira, pelo recém-criado Movimento Democrático de Moçambique (MDM), no seguimento da sua expulsão da RENAMO.
Com o efeito, a FRELIMO recuperou o poder na maior parte dos municípios que tinha anteriormente perdido, excepto na Beira, pois esta vou arrancada poderosamente pelo novo partido (MDM), surgindo assim uma nova maior oposição nacional.
De acordo com o Acórdão n.° 04 /CC/2011 de 22 de Dezembro, realizaram-se também eleições intercalares em três municípios (Quelimane, Cuamba, e Pemba) em 7 de Dezembro de 2011, por motivos de resignação dos seus edis, após a FRELIMO, aparentemente, ter ordenado a demissão dos seus três presidentes do conselho municipal nestas cidades. E alegando problemas da lei eleitoral, a RENAMO não concorreu a estas cruciais eleições intercalares. Apenas a FRELIMO e o MDM concorreram às eleições em todos os municípios, e Manuel de Araújo (MDM), ganhou em Quelimane, ao passo que, em Pemba e em Cuamba, ganharam os candidatos da FRELIMO, por Tagir Carimo e Vicente Lourenço respectivamente.

2.2.4 Quartas eleições autárquicas de 2013

Neste período mais 10 vilas nacionais foram elevadas a categoria de municípios, em delas foram as seleccionadas: Mandimba, Malema, Maganja da Costa, Sussundenga, Quissico, Praia do Bilene, Chiúre, Boane, Nhamnayábuè e Nhamatanda, perfazendo com os municípios anteriores um total de 53 autarquias. Nestas eleições a RENAMO não participou pelas mesmas suspeitas de sempre, participando a FRELIMO, MDM e muitos outros, em que constatou-se uma vitória esmagadora da FRELIMO no país, conquistando 50 municípios e a MDM os três municípios (Beira, Quelimane e Nampula) (SAPO, 2013).

2.2.5 Quintas eleições autárquicas de 2018

E que pela aprovação do Conselho de Ministros, as eleições decorreram no dia 10 de Outubro de 2018, em que 53 municípios foram a voto.

2.3 A importância do voto

As eleições são de fundamental importância, além de representar um acto de cidadania. Possibilitam a escolha de representantes e governantes que fazem e executam leis que interferem directamente em nossas vidas. Escolher um péssimo governante pode representar uma queda na qualidade de vida. Sem contar que são os políticos os gerenciadores dos impostos que nós pagamos. Desta forma, precisamos dar mais valor a política e acompanharmos com atenção e critério tudo que ocorre em nossa cidade, estado e país. (DE SOUSA, S/d)
O voto deve ser valorizado e ocorrer de forma consciente. Devemos votar em políticos com um passado limpo e com propostas voltadas para a melhoria de vida da colectividade.

2.4 Causas da alienação eleitoral

As abstenções estão ligadas a um perfil de eleitor de baixa renda e escolaridade, pouco informado, pouco participante e que pouco confia nas demais pessoas. Já o voto branco/nulo não possui uma base social bem definida, porém quanto as atitudes, são eleitores que avaliam pessimamente o desempenho das instituições e que claramente não votariam caso não houvesse obrigatoriedade do voto.
BORBA (2008), em suas análises sobre as bases sociais e atitudinais da alienação eleitoral com base em uma pesquisa pós-eleitoral, Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB 2002), o autor chegou as seguintes conclusões:
I- Quanto a abstenção: a mesma está mais relacionada a renda e a escolaridade, quanto maiores forem a renda e escolaridade do eleitor, menos são as chances do mesmo se abster. Partindo para variáveis atitudinais, os dados apontam que a decisão de se abster está pouco relacionada “à forma como o cidadão percebe a política e suas instituições”.
II- Quanto ao voto branco e nulo: estes obedecem outra lógica. Aqueles eleitores mais insatisfeitos com o funcionamento das instituições políticas apresentaram maior inclinação pela opção branco/nulo. Assim como aqueles eleitores que “nutrem um alto sentimento de eficácia política subjetiva [...] são menos propensos a anular ou votar em branco” (BORBA, 2008:151).
Em suma, o autor constatou que as variáveis ligadas a idade, renda e escolaridade estão relacionadas com o absenteísmo, enquanto as variáveis atitudinais (avaliação das instituições políticas e sentimento de eficácia política) estão relacionadas com o voto branco e nulo. O autor propõe que o absenteísmo relaciona-se com os custos e oportunidades da participação, (BORBA, 2008).

2.5 Medidas de mitigação das abstenções

O pressuposto básico é de que “o comportamento político deve ser analisado em seu contexto social e não como uma atividade autônoma” Como o voto é “o ato final de um processo mais amplo”, para compreender o voto de “coletivos sociais” é necessário ter conhecimento do contexto (onde vivem e como vivem) dos eleitores pertencentes a esses coletivos. Dessa forma, é o estudo das condições sociais adjacentes ao processo eleitoral, que finda no dia da eleição, que possibilita compreender o voto dos eleitores, já que o acto individual de votar não é “socialmente isolado”. (FIGUEIREDO, 2008:48).
É preciso conhecer as condições que cercam a vida desse eleitor, o contexto socioeconômico ao qual está inserido para, assim, poder entender o seu comportamento eleitoral. Desta forma, as variáveis que caracterizam sócioeconomicamente determinados contextos territoriais, tornam-se variáveis preditoras do comportamento dos grupos sociais que ali estão inseridos, já que eleitores em condições socioeconômicas semelhantes tendem a desenvolver condutas semelhantes.
Segundo DE SOUSA (S/d), para realizar um voto consciente “temos que aceitar a ideia de que os políticos não são todos iguais. Existem políticos corruptos e incompetentes, porém muitos são dedicados e procuram fazer um bom trabalho no cargo que exercem”.
É importante acompanhar os noticiários, com atenção e critério, para saber o que nosso representante anda fazendo. Pode-se ligar ou enviar e-mails perguntando ou sugerindo ideias para o seu representante. Caso verifiquemos que aquele político ou governante fez um bom trabalho e não se envolveu em coisas erradas, vale a pena repetir o voto. A cobrança também é um direito que o eleitor tem dentro de um sistema democrático (Idem).




[1] Jornal Gratuito Folha Verde
[2]http://www.baidu.com.br/s?ie=utf8&wd=O%20absente%C3%ADsmo%20(portugu%C3%AAs%20brasileiro)%20ou%20absentismo%2Fabsente%C3%ADsmo%20(portugu%C3%AAs%20europeu)%5B1%5D%20%C3%A9%20um%20padr%C3%A3o%20ha&tn=GSE_90v70_qwjeg0fh&fr=ElUf3HYjQ+9i/TR7FnwbuWEKXbIJdRWoNaJiO3o=
[3] https://www.significados.com.br/absenteismo/

Bibliografia

BORBA, J. As bases sociais e atitudinais da alienação eleitoral no Brasil. In: Revista Debates, v. 2, p. 134-157, 2008.
CISTAC, G. Institucionalização, organização e problemas do poder local. Lisboa: Jornadas de direito municipal comparado Lusófono. 2012.
DE SOUZA Mendonça, Valda. Direito, Política, Democracia. OAB/SC. Disponível em: https://www.suapesquisa.com/religiaosociais/eleicoes_voto.htm. acesso dia 31 de Outubro de 2018.
FIGUEIREDO, Marcus. A decisão do voto: democracia e racionalidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
JORNAL GRATUITO @Folha Verde. Escrito por Redacção  em 23 Outubro 2009. Disponível em: http://www.verdade.co.mz/nacional/6272-o-dever-de-votar. acesso no dia 1 de Novembro de 2018.
MARCONI, Marina de Andrade & LAKATOS, Eva Andrade Fundamentos de Metodologia Científica; 5a ed. São Paulo; Editora Atlas S.A. 2003.
NOÉ, F. G. Manual de Gestão e Administração Autárquica. Beira: UCM-CED. (S/d).
SAPO. CNE confirma 50 municípios para Frelimo e dois para MDM. 06 de Dezembro de 2013. Obtido em 01 de Setembro de 2017, de SAPO MZ: http://autarquicas.sapo.mz/2013/noticias/opais/artigo/cne_confirma_50_municipios_para_frelimo_e_dois_para_mdm.html
TSE. Breve apresentação sobre as eleições de 2005 para a Assembleia Legislativa de Macau. Macau: MAJEA. 2005
TVI24. Eleições autárquicas em Moçambique. TVI24 Internacional, 6-10. 2008
Validação e Proclamação dos Resultados das Eleições Autárquicas Intercalares de 7 de Dezembro de 2011 _______ Acórdão n.° 04 /CC/2011 De 22 de Dezembro Processo n.° 03/CC/2011.

Sem comentários:

Enviar um comentário